Hoje vamos falar das cozinhas. Queridinhas das
nossas casas! E para estabelecer uma linha de raciocínio, posso eleger dois
pontos que definem o seu uso e a maneira como nos comportamos e como as
construímos.
Desde os primórdios e principalmente com a descoberta
do fogo, o ato do preparo do alimento criou um ritual, onde as pessoas se juntavam
para cozinhar, conversar, e se alimentar. Aqui nasce o primeiro ponto, que é a
NECESSIDADE ALIMENTAR.
Outro ponto é percebermos, que desde a
antiguidade a HIERARQUIA SOCIAL de qualquer cultura está presente, por motivos
que vão de força física a religião, as pessoas se organizam verticalmente numa
escala de valores e importâncias individuais e coletivas.
E assim como tantas outras funções, habilidades
e necessidades humanas a CULINÁRIA, ou simplesmente o ato de cozinhar, para si
e principalmente para os outros, foi negligenciada para algo de menor valor e
importância.
Passamos por milênios nos construindo dessa
forma: a cozinha é do plebeu, é mal iluminada e ventilada, é o lugar sujo, onde
se mata o bicho, se cheira mal, onde o serviçal sem valor trabalha. Porém é
onde a mágica acontece, os alimentos se transformam e odores e sabores se
fundem.
E a sala de jantar, logo ali ao lado, bem
ventilada, com móveis elegantes e confortáveis era onde o regozijo e os
prazeres da gula eram deliciosamente saboreados e vividos.
E cá entre nós, geração pós geração quem não
iria curtir fazer parte da turma da sala de jantar? E é aqui que nasce nossa
cultura de construção das cozinhas e o equívoco da nossa falta de percepção
social. Principalmente da classe média.
Faz 30, 40, 70 anos e ainda estamos
construindo, de modo geral, com essa visão que teremos pessoas para nos servir.
E também para aspirar as migalhas do tapete da sala de jantar.
Vivemos o “boom” das edículas e das cozinhas
externas, onde a “bagunça” ou a “fritura” poderia e deveria ocorrer. Foi legal,
e na maior parte dessas experiências elas se tornaram a cozinha oficial e deixaram
a outra cozinha obsoleta e sem uso.
E isso esbarra no tamanho dos lotes de terreno,
onde construímos nossos lares: são pequenos e gastar espaço que não se usa não
faz sentido, pois você deixa de ter espaços únicos maiores, além de gastar
recursos financeiros e ambientais desnecessariamente.
A gente se sabota, querendo viver uma realidade
que não existe, e vive abarrotado na cozinha apertadinha, olhando para o espaço
gourmet e sala de jantar: lindos, espaçosos e vazios.
Essa consciência espacial tem apresentado
reflexos e cada vez mais as pessoas tem percebido que uma casa precisa de um
ÚNICO cômodo onde: preparem-se os alimentos, assados, fritos, no fogo ou na
eletricidade, comam, bebam, conversem, se aglomerem em ilhas, mesas, redes ou
sofás, e para esse espaço se dê o nome que queira, espaço gourmet, varanda
gourmet ou simplesmente cozinha.
É obvio que não existe regra e a realidade e as
necessidades são individuais e o respeito é princípio básico social e
comercial.
No próximo falaremos um pouco sobre as nossas
salas.
Muito obrigado.