Eu nunca imaginei muitas coisas que acontecem na minha vida, apesar de planejar muitas coisas o tempo todo, muito acontece sem o menor planejamento, não sei se para você é assim também, mas muitas coisas legais, emocionantes e espirituais acontecem comigo sem o menor planejamento.
Assim foi a fotografia. Eu me lembro da primeira câmera usada que minha mãe comprou, uma câmera com um filme esquisito. Também fiz muitas fotos com ela, depois nos anos 2000 eu fiz uma viagem para Londres e lá em um mês fiz mais de 400 fotos e achei bastante na época, hoje em dia uma viagem de 15 dias me dá uma bagagem de 4000 a 5000 fotos, e ainda sinto falta de mais e mais clics, essa arte me enche de vontade de clicar, é uma delícia. Ainda mais hoje com os Smartfones, ficou cada vez mais fácil fazer fotos. Ouça: eu disse fazer fotos e não boas fotos, fazer uma boa foto ainda exige um bom olhar, luz, edição, ângulo entre outras coisas. O equipamento é importante, mas não é fundamental para uma boa foto.
A Pandemia de Coronavírus foi e está sendo muito difícil, desde meados de março de 2020 as coisas ficaram complexas, mas tem um pessoal que está firme e forte na linha de frente, são os trabalhadores da Saúde, entrei em contato com a direção da Santa Casa de Cerquilho e apresentei a ideia de registrar os profissionais em seu habitat. E para que tudo pudesse funcionar bem teria que fotografar todos os funcionários, passando pela recepção, segurança, médicos, cozinha, higienização, todos, todos, todos, a ideia era boa, mas não sabia o que estava por vir.
Então a logística foi feita assim:
Primeiro dia das 16h às 19h – para pegar o final do turno da manhã e começo da noite
Segundo dia das 16h às 19h – para registar o turno 2 da manhã e o turno 2 da noite
No primeiro dia fui pra lá, e a experiência foi fantástica, porém em alguns momentos levemente constrangedores, alguns colocaram a mão no rosto, mesmo usando máscaras, outros imediatamente rechaçaram a ideia de serem registrados. Mas a grande maioria permitiu, porém com receio, dada a situação inusitada de alguém ali registrando o trabalho deles.
Aqui merece uma pausa para um bastidor. Eu não sabia como seria o registro de cada um, porém quando vi todos, todos, todos, de máscara tive uma ideia ali na hora, fazer uma foto com máscara e uma foto sem máscara. Meu estilo na fotografia é retrato, eu sabia que manteria o meu estilo, mas essa ideia surgiu ali na hora e foi uma grande ideia.
Cada pessoa que eu apontava a câmera tinha uma reação e mesmo através da máscara é possível ver o sorriso, a angustia, a tristeza, o stress, os olhos falam e falam muito, mas independente de tentar interpretar os olhares, o que eu vi é que atrás das máscaras tem profissionais, mães, pais, namoradas, noivas, ou seja, atrás da mascaras tem uma pessoa, um ser humano, tem vida. A cada clique meu coração era invadido por um senso de pertencimento, acho que nunca tinha passado tanto tempo dentro de um hospital, logo o ambiente começou a ficar tão amigável, que me sentia em casa.
Até que chegou a hora da ALA-COVID. Nesse momento eu pensei…. onde foi que eu me meti??? Lá dentro surgiu um problema: não seria possível registar as pessoas sem máscara, pois não é possível tirar a máscara dentro dessa ala. Outra orientação é que eu não deveria tocar em nada, segui direitinho as orientações e correu tudo bem.
Voltei para casa e comecei a editar algumas fotos, não foi planejado, mas causou um impacto muito grande na equipe, pois no dia seguinte eu voltaria para registrar mais 2 plantões. Confesso que meu coração pulsava enquanto editava cada foto, porém comecei a ficar preocupado, pois no primeiro dia foram mais de 300 fotos.
No segundo dia foi uma festa, percebi que algumas pessoas já estavam esperando e ficou muito mais simples o convencimento para registrar cada pessoa, fizemos todos os setores e como alguns tinham visto as fotos do dia anterior, recebi até pedidos de uns cliques a mais, que legal, que emoção, que alegria.
Missão cumprida????
Nada disso, por algum motivo que eu desconheço, pulei uma recepcionista, então tive que voltar num sábado pela manhã para registrá-la, chegando lá descobri que mais alguns não tinham sido clicados.
Missão cumprida????
Não e não, faltou um plantão inteiro noturno, então marquei mais um dia para a noite para fazer o registro, uma enfermeira que estava de férias também não queria ficar de fora e se paramentou e correu para lá, para ser clicada.
Nesse dia foi curioso, recebi pedidos de novos cliques, para melhorar o primeiro…. que coisa boa, a confiança deles no meu trabalho, fique super feliz.
Missão Cumprida???
Ainda não, depois de preparar as fotos percebi que a Chefe da enfermagem não havia sido clicada sem máscara, então voltei lá uma última vez para o clique, e ai fechar a parte do  registro.
E então começou a divulgação.
Primeiro coloquei em álbum no facebook as fotos com máscara, pois a edição seria mais simples, sem muitos recursos.
Segundo publiquei um álbum sem máscaras, e ai coisa ferveu, foram milhares de cliques, interações, comentários, em cada foto e percebi que tinha ali a chance de valorizar ainda mais esses profissionais maravilhosos.
Lancei o desafio no álbum sem máscara, que as 3 fotos mais curtidas ganhariam alguns mimos que eu trouxe das viagens a Moçambique, e aí a coisa ferveu no final colocarei os links dos dois álbuns no facebook para ver esse trabalho.

Em homenagem ao Dia da Fotografia e todos que estão envolvidos com o meio fotográfico, essa é uma das muitas histórias fantásticas que tenho vivido com a fotografia, logo publicarei outras histórias.

Aqui embaixo os links para os álbuns das fotos.

Com máscara
https://www.facebook.com/ronny.dajuda/media_set?set=a.2528681047462345&type=3


Sem Máscara
https://www.facebook.com/ronny.dajuda/media_set?set=a.2533707950292988&type=3

Além dos álbuns você pode ver também meu Instagram em
https://www.instagram.com/ronnyclayton_photos/