Ministro do STF elogia planejamento estatal e estabilidade institucional da China, mas nega defesa de autoritarismo; declarações geram críticas e reacendem debate sobre democracia e governança

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, voltou a provocar repercussão ao manifestar publicamente admiração por aspectos do regime chinês. Em evento acadêmico realizado nesta semana na Universidade de Pequim, Mendes destacou o que chamou de “eficiência administrativa e visão de longo prazo” do sistema político chinês, provocando debate no meio jurídico e político brasileiro.

“É impressionante como a China consegue combinar estabilidade institucional com planejamento estratégico. Há lições que podemos observar, especialmente no que diz respeito à continuidade de políticas públicas e à centralidade do Estado no desenvolvimento econômico”, afirmou o ministro durante painel sobre constitucionalismo comparado.

Declarações dividem opiniões

A fala gerou reações imediatas. Enquanto alguns analistas interpretam o comentário como uma reflexão sobre modelos de gestão estatal, críticos acusam o ministro de flertar com regimes autoritários. A China é comandada por um regime de partido único liderado pelo Partido Comunista Chinês, com controle rígido sobre a mídia, a internet e a oposição política.

Juristas e políticos de diferentes espectros ideológicos reagiram. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirmou que “não é papel de um ministro da Suprema Corte elogiar regimes que censuram e perseguem opositores”, enquanto aliados do governo viram na fala uma provocação à atual polarização política do país.

Gilmar nega defesa de autoritarismo

Após a repercussão negativa, o ministro se pronunciou por meio de nota, dizendo que sua fala foi retirada de contexto e que não fez defesa do autoritarismo, mas sim uma “análise institucional comparativa”. “Não se trata de defender modelos, mas de observar práticas que funcionam, como o investimento estatal em tecnologia, infraestrutura e educação”, explicou.

Gilmar Mendes é conhecido por suas posições independentes e frequentemente provoca debates ao tratar de temas sensíveis. Nos últimos anos, ele tem abordado temas como o presidencialismo de coalizão, o papel do STF na política e a relação entre democracia e eficiência governamental.

Modelo chinês: inspiração ou alerta?

O episódio reabre a discussão sobre até que ponto modelos não-democráticos podem servir de referência para países democráticos. A China tem sido apontada como exemplo de crescimento econômico acelerado, mas também enfrenta duras críticas por violações de direitos humanos e repressão política.

Para a cientista política Mariana Lins, da Universidade de Brasília (UnB), “é possível reconhecer elementos de eficiência em sistemas autoritários, mas isso não significa que sejam desejáveis. A democracia é, por natureza, mais lenta e complexa, mas garante liberdade e pluralidade”.

Reflexão necessária

Apesar da controvérsia, o episódio também lança luz sobre um debate importante: como encontrar um equilíbrio entre estabilidade, desenvolvimento e respeito às liberdades fundamentais. A fala de Gilmar Mendes, ainda que polêmica, reforça o papel da academia e das instituições em promover reflexões críticas sobre os desafios da governança no século XXI.