Medida também isenta famílias de baixa renda que consumam
até 80kWh
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta
quarta-feira (21), a medida provisória (MP) que reforma o setor elétrico
brasileiro com o objetivo de reduzir o custo da energia para a população e
pequenos empresários. O texto deve ser publicado ainda hoje no Diário Oficial
da União e prevê mudança da Tarifa Social, abertura de mercado, com liberdade
de escolha de fornecedor para o consumidor comum, e distribuição mais justa do
pagamento de encargos.
“É preciso que a gente faça justiça numa coisa tão
importante que é a energia para o consumo das famílias brasileiras”, disse Lula
durante reunião no Palácio do Planalto.
A proposta é que haja a isenção de pagamento de tarifa de
energia elétrica para famílias de baixa renda que consumam até 80
quilowatts-hora (kWh) por mês, o que chegaria a 60 milhões de pessoas no país.
Os beneficiários são famílias do CadÚnico com renda mensal de até meio salário
mínimo per capita, idosos com Benefício de Prestação Continuada e famílias
indígenas e quilombolas do CadÚnico.
Atualmente, a isenção completa do pagamento em caso de
consumo de até 50 kWh vale para indígenas e quilombolas, enquanto os idosos com
BPC e as famílias do CadÚnico têm direito a descontos escalonados de até 65%,
caso o consumo seja menor que 220kWh.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), as
faixas de desconto estão defasadas e, com as mudanças, nenhuma família terá
redução no benefício atualmente recebido. “A gratuidade para o consumo de até
80 kWh/mês garante o acesso à energia elétrica, sem custos, para atendimento
das necessidades básicas das famílias beneficiárias”, explicou a pasta.
Assim, a expectativa é que mudança reduza os furtos (gatos
de energia) e custos operacionais das distribuidoras por redução da
inadimplência.
A Tarifa Social é custeada pela Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE) e seus beneficiários são isentos de pagamento desse encargo.
Pela proposta, famílias do CadÚnico com renda per capita
entre meio e um salário mínimo também terão isenção do pagamento da CDE no
consumo mensal de até 120 kWh. O objetivo é ter uma tarifa de transição entre
Tarifa Social e tarifa normal, com distribuição mais justa dos impactos da CDE
no orçamento familiar. Cerca de 55 milhões de pessoas podem ser beneficiadas
com redução de cerca de 12% na contas de energia.
A assinatura da MP ocorreu em reunião no Palácio do
Planalto, com a presença de ministros, os presidentes da Câmara e do Senado,
líderes do governo no Congresso e outros parlamentares. Por se tratar de uma
medida provisória, o texto entra em vigor imediatamente após a sua publicação,
mas precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal em até
120 dias. Se não for votado, perde a validade.
De acordo com o ministro de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, Lula participou ativamente da construção da proposta na busca por
reduzir o custo da energia à população. “Mas, especialmente, para fazer justiça
com a classe média do Brasil e com os nossos consumidores de baixa renda e
corrigir distorções do setor criado nos últimos 20 anos”, disse, lembrando que
o movimento da transição energética e investimento em novas fontes elevaram os
custos da energia ao longo dos anos.
Custo do setor
O custo de R$ 3,6 bilhões por ano da nova tarifa e do
desconto social será compensado com os outros eixos da reforma do setor: a
abertura do mercado e o reequilíbrio dos custos internos. Uma das distorções é
o pagamento sobre a segurança energética, que é paga apenas pelos consumidores
do mercado regulado de baixa tensão e não pelos compradores no mercado livre,
de energia de alta tensão.
Pela proposta, os consumidores livres serão incluídos na
base de adquirentes da produção de energia elétrica das usinas Angra 1 e 2, de
energia nuclear, e de consumidores que suportam os incentivos à geração
distribuída por meio da CDE, com rateio proporcional ao consumo, independente
do nível de tensão.
“A conta vai cair [para o consumidor comum] numa correção
de alguns incentivos que foram dados, em especial às geradoras, no final do
conjunto do processo, que foram úteis de certa forma, porque fizeram com que o
Brasil pudesse ser protagonista da transição energética global, mas que não faz
mais sentido o consumidor pagar a partir de agora”, explicou Silveira.
Livre mercado
Outro trecho da MP dá mais liberdade de escolha para o
consumidor, inclusive residencial, em relação à origem da energia que ele irá
consumir. Segundo Alexandre Silveira, a medida beneficia, principalmente, a
classe média, acabando com o monopólio das distribuidoras, como ocorre hoje com
operadoras de telefonia e internet, por exemplo. Residências e pequenos
comércios, então, poderão escolher sua fonte de energia.
“[Acaba] com o monopólio apenas de uma fonte para poder
fornecer energia para o mercado regulado, que é a fonte, é da geração
distribuída, permitindo que todo mundo possa e escolher a fonte que quer
comprar energia, criando naturalmente uma concorrência entre as várias fontes
de geração de energia e, com isso, igualando os demais consumidores aos
consumidores livres que hoje pagam em média 23% a menos do que o consumidor
regulado”, explicou.
Cerca de 80 mil consumidores, hoje, compram no mercado
livre.
A abertura do mercado será gradual, para garantir o
cumprimento de contratos e preparação do setor. Indústrias e comércios a partir
de agosto de 2026 e demais consumidores a partir de dezembro de 2027.