Disputas internas, articulações de centro e movimentos
moderados podem fragmentar o eleitorado conservador em 2026
À medida que o cenário político para 2026 começa a se
desenhar, a direita brasileira — especialmente a ala bolsonarista — enfrenta
desafios não apenas vindos da esquerda, mas também de dentro do próprio campo
político. A chamada “terceira via” e lideranças moderadas, como o ex-presidente
Michel Temer, têm se movimentado com discrição, mas podem interferir
diretamente no projeto de retomada do poder pelo grupo ligado a Jair Bolsonaro.
Mesmo sem uma candidatura confirmada, a terceira via tem
buscado se posicionar como uma alternativa ao que considera os dois extremos da
política brasileira: o petismo e o bolsonarismo. Essa estratégia, embora ainda
sem grande força popular, pode dificultar a unificação do voto conservador —
especialmente entre eleitores mais moderados, liberais e ligados ao agronegócio
ou mercado financeiro.
Temer e o papel do centro
Michel Temer, presidente entre 2016 e 2018 após o impeachment
de Dilma Rousseff, voltou ao centro do debate político com articulações nos
bastidores. Embora não seja cotado diretamente para disputar a presidência, o
ex-presidente atua como figura de influência nos bastidores do MDB e de outras
siglas do chamado “centrão responsável”.
Temer tem defendido um discurso de pacificação institucional
e de diálogo entre os poderes, o que o distancia do estilo combativo da direita
bolsonarista. Seu apoio a possíveis candidaturas mais moderadas, como de Simone
Tebet (MDB), Tarcísio de Freitas (caso tente se desvincular do bolsonarismo),
ou até de outsiders com perfil técnico, é visto como um movimento para conter o
avanço de uma direita mais radicalizada.
Terceira via fragmentada, mas influente
Apesar de ainda não ter um nome de grande apelo popular, a
terceira via segue ativa em articulações políticas. Partidos como MDB, PSDB,
União Brasil e PSD ensaiam possíveis alianças e sondam nomes que possam captar
o voto de eleitores desiludidos com o atual governo Lula e ao mesmo tempo
desconfortáveis com o radicalismo bolsonarista.
Entre os nomes citados, surgem com frequência a senadora
Simone Tebet, o governador Eduardo Leite, o ex-ministro Henrique Meirelles e
até mesmo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Nenhum deles é apontado como
favorito, mas todos têm potencial para tirar votos de uma eventual candidatura
de direita, caso o campo conservador não se una.
O risco da divisão para a direita
O maior risco para o projeto da direita bolsonarista é a
fragmentação do eleitorado. Em 2022, Jair Bolsonaro chegou ao segundo turno com
força, mas enfrentou rejeição de parte do centro. Com ele inelegível, há uma
disputa interna para decidir quem herda esse legado — e nomes como Tarcísio de
Freitas e Michele Bolsonaro ainda não são consenso.
Se a direita se dividir entre candidatos ideológicos,
moderados e nomes independentes, corre o risco de não chegar unida ao segundo
turno, especialmente diante de um possível favoritismo de Lula ou do PT no
primeiro turno.
Caminhos e articulações em curso
Enquanto o PL tenta manter o bolsonarismo vivo com Michele ou
outro nome de confiança de Bolsonaro, figuras como Michel Temer atuam nos
bastidores para articular uma “ponte” entre o centro e a direita, excluindo os
extremos. Isso pode atrair partidos médios, prefeitos e governadores que
desejam estabilidade institucional e evitar conflitos.
A disputa de 2026 ainda está distante, mas o jogo político já
começou. E nele, a direita conservadora terá que lidar não apenas com seus
adversários históricos, mas também com as nuances internas e os obstáculos
colocados por antigos aliados do centrão.