A relatora da CPI, Soraya Thronicke, e o presidente, Dr. Hiran,
criticaram falta dos convocados a depoimento
A CPI das Bets aprovou nesta terça-feira (27) a condução
coercitiva de dois representantes do setor de apostas que não compareceram à
convocação para depor. O empresário Jorge Barbosa Dias, proprietário da
plataforma de apostas MarjoSports, e o influenciador digital Luan Kovarik —
conhecido como Jon Vlogs e criador da plataforma de apostas Jonbet — deveriam
ter prestado depoimento ao colegiado nesta terça.
Presidente da CPI, o senador Dr. Hiran (PP-RR) criticou a
ausência dos convocados. Ele disse que há indícios de que Jon Vlogs seja um dos
proprietários da empresa de apostas Blaze — que, segundo o senador, é a
principal contratante de influenciadores para divulgar jogos de aposta. A
comissão investiga supostas irregularidades no uso de influenciadores na
promoção de apostas.
— Vamos voltar nossa atenção para a Blaze. [A ausência dos
convocados] não é um mero inconveniente, é um ato de desprezo com esta
comissão. Determinarei a adoção de medidas apropriadas à Advocacia do Senado —
disse Hiran, referindo-se à condução coercitiva, quando a pessoa pode ser
levada à presença de autoridade, mesmo contra sua vontade, para prestar
depoimento.
À CPI, Jon Vlogs informou que não compareceu por estar fora
do país, o que gerou críticas da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS),
relatora da comissão parlamentar de inquérito.
— Nós sabemos muito bem quão ricas essas pessoas são. Elas
podem vir do exterior, porque tem voos todos os dias para o Brasil. Na minha
concepção, é má vontade, uma desculpa — declarou a senadora.
Convocado a pedido de Soraya, Jon Vlogs está na condição de
investigado. Segundo a justificativa do requerimento de convocação (REQ
172/2024 - CPIBETS), o influenciador tem "relevância" no mercado de
apostas on-line porque reúne grande número de usuários na plataforma Jonbet e
também esteve à frente de uma "massiva" campanha de promoção da
Blaze, outra plataforma de apostas.
Já Barbosa comparece à comissão como testemunha, também por
iniciativa de Soraya (REQ 257/2024 - CPIBETS). Os parlamentares querem
esclarecer os critérios de credenciamento adotados, além de investigar
suspeitas de envolvimento da empresa com lavagem de dinheiro.
Repercussão
Soraya repercutiu matérias jornalísticas que relacionaram o
senador Ciro Nogueira (PP-PI), que é membro suplente da CPI, a um empresário de
empresa do setor de apostas. Segundo a relatora, trata-se de um conflito de
interesse que prejudica a credibilidade das investigações.
— A Folha de S.Paulo disse que o senador viajou à Europa em
jatinho de empresário alvo da CPI das Bets... Ele tem uma relação de amizade
muito forte com um dos maiores (se não o maior) investigados desta CPI, o
senhor Fernandinho [conhecido com Fernandinho OIG, que já compareceu à CPI].
Por isso, eu acabei de oficiar a liderança do bloco parlamentar do senador para
que o substitua [na composição da CPI] — disse Soraya.
Prorrogação
Os senadores Izalci Lucas (PL-DF) e Eduardo Girão (Novo-CE)
defenderam uma segunda prorrogação da CPI, que já foi estendida por 45 dias e
funcionará até o dia 14 de junho. Izalci argumentou que o depoimento de Jon
Vlogs é essencial para os trabalhos do colegiado.
— Encerrar essa CPI sem ouvir o que foi dito aqui por esse
influenciador é irresponsabilidade nossa. Acho que a gente deve já reforçar com
o presidente Davi para botar na pauta a prorrogação da CPI.
Segundo as regras da Casa legislativa, o prazo de
funcionamento da CPI poderá ser prorrogado por requerimento de um terço dos
membros do Senado.
Requerimentos
A CPI ainda aprovou requerimento (REQ 465/2025 - CPIBETS)
para que o colegiado receba relatórios de inteligência financeira (RIF) de Jon
Vlogs. O documento elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) possui dados bancários e fiscais sigilosos. Também foram
aprovados requerimentos que:
- solicitam à Polícia Civil do Distrito Federal cópia de
inquérito policial iniciado em 2024 que investiga uma suposta rede criminosa
internacional operando no Brasil por meio da exploração ilegal de jogos de azar
(REQ 464/2025 - CPIBETS);
- reforçam pedidos de informações ao Ministério Público (REQ
455/2025 - CPIBETS) e Polícia Federal (REQ 454/2025 - CPIBETS).