Ex-presidente e figuras-chave do governo anterior são ouvidos
no inquérito que apura articulação para deslegitimar eleições de 2022 e tramar
ruptura democrática.
Brasília – O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início nesta
semana à fase de interrogatórios no inquérito que investiga uma suposta
tentativa de golpe de Estado articulada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e
seus principais aliados. As oitivas começaram com depoimentos de militares,
ex-ministros e ex-assessores, incluindo nomes ligados ao alto escalão do
governo anterior.
O inquérito, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes,
apura a existência de uma trama para invalidar o resultado das eleições
presidenciais de 2022, que levaram Luiz Inácio Lula da Silva de volta à
Presidência. Entre os investigados estão o próprio Bolsonaro, os generais Braga
Netto e Augusto Heleno, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o
ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que já firmou acordo de delação premiada.
Segundo a Polícia Federal, há indícios de que o grupo
elaborou e discutiu minutas de decretos para instaurar estado de sítio ou
intervenção militar, com o objetivo de impedir a posse do presidente eleito.
Além disso, são investigadas campanhas de desinformação, apoio a atos
antidemocráticos e pressão sobre instituições, como o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e o Congresso Nacional.
Os interrogatórios ocorrem sob forte esquema de segurança e
seguem protocolos de sigilo. Fontes ligadas à investigação afirmam que os
depoimentos desta semana são cruciais para o avanço da apuração, podendo
embasar eventuais denúncias por crimes contra o Estado democrático de direito,
associação criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado de Direito.
A defesa de Bolsonaro nega qualquer envolvimento em plano
golpista e alega perseguição política. Em nota divulgada nesta segunda-feira,
seus advogados afirmaram que o ex-presidente "respeita a Constituição e
sempre atuou dentro das quatro linhas".
O STF, por sua vez, afirma que o inquérito seguirá com base
técnica, respeitando os direitos dos investigados e o devido processo legal. O
avanço das investigações também reacende o debate sobre o papel das Forças
Armadas na política e a necessidade de fortalecer os mecanismos de defesa da
democracia no país.
Novos depoimentos estão previstos para os próximos dias, e a
expectativa é de que o ministro Alexandre de Moraes conclua essa etapa até o
final do mês. A depender do que for apurado, a Procuradoria-Geral da República
poderá oferecer denúncia formal contra os envolvidos.